FURTA-COR
de volta aos jardins – desenhos de Teresa Poester
Se furta-cor significa as múltiplas tonalidades que se transformam conforme a luz projetada sobre elas,
o título foi também escolhido por Teresa Poester como referência às cores furtadas de um mundo ameaçado que amanheceu cinza.
São trabalhos inéditos, feitos no seu atelier da França, alguns bem recentes pensados para a montagem neste espaço.
Desde onde se olham os jardins?
A busca desse lugar surge de uma necessidade de repouso, uma falta de ar, um desejo de luz.
Estar à janela ou sair de um espaço fechado em busca de um lugar aberto, colorido.
Janelas através das quais Teresa vislumbra os jardins por onde passa, onde sua alma possa respirar.
Janelas através das quais Pissarro pintava os jardins de sua casa em Eragny sur Epte.
Jardins que percorria em suas caminhadas ao longo do Epte, rio discreto que flui entre árvores altas.
Teresa, que trabalhou no ateliê do Mestre, está em sintonia com o pintor, que registrou a natureza com devoção.
Ao desenhar os jardins de Eragny, onde vive, a artista dialoga com algum Eden possível.
Contrapondo-se à mostra anterior Até que meus dedos sangrem, esta exposição anuncia o retorno da
primavera, o respiro profundo nascido da observação da Natureza, a que sempre se renova.
Ao ver essas obras, esperamos que assim seja.
Maria Lucia Verdi
Eragny sur Epte, outono de 2022
Percurso da Artista Teresa Poester
Eduardo Ferreira Veras [crítico de Arte, historiador de arte e professor do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul , Porto Alegre, Brasil]
Artista com longa trajetória, Teresa Poester (Bagé, 1954) vem se dedicando nos últimos anos a investigações de caráter experimental sobre possíveis fusões do desenho – ou do gesto de desenhar – com outras linguagens expressivas, sejam a fotografia, o livro de artista, a gravura, a performance, o vídeo vídeo performance e, mais recentemente, a animação.
Examina a possibilidades de combinação entre a gestualidade do corpo e a reverberação de seus movimentos no desenho, ou ainda, entre o processo de criação da linha, da macha e do ponto e a observação de formas da natureza.
Fotografa e desenha em um percurso inverso ao tradicional: não desenha a partir de fotografias, mas fotografa a partir de seus desenhos de imaginação.
Vivendo entre o Brasil e a França desde 1998, Teresa, que é Doutora em Artes Visuais pela Universidade de Paris I (Panthéon, Sorbonne), foi durante vinte anos professora de desenho no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, tendo recentemente dado cursos, também de desenho, na UJVP- Université Jules Verne, em Amiens.
Ao lado de diferentes artistas, tanto no Brasil como na França, tem desenvolvido um trabalho coletivo que alimenta sua prática individual. Pesquisando de forma teórica e prática as inúmeras possibilidades do desenho na contemporaneidade – sua autonomia como linguagem artística, seus trânsitos e seus desdobramentos , trabalha entre os limites tênues entre a figuração e a abstração.
Apresentando regularmente sua produção em exposições individuais e coletivas, Teresa vai progressivamente, em um percurso não linear, mas feito de idas e vindas, voltando-se à abstração – embora mantenha, nunca de maneira óbvia, a paisagem como referência.
Em sua trajetória, destacam-se séries como os Jardins d´Eragny, feita de linhas leves frequentemente riscadas com caneta esferográfica, ou Anagramas, que conjuga matrizes da gravura em metal, manipulações digitais e desenho livre, em uma insuspeitada orientação caligráfico-matemática.
As preocupações experimentais da artista em relação ao desenho sintetizam-se nas grandes instalações de desenho ou videoinstalações que vêm caracterizando seus projetos e exposições.