ROSELI JAHN

Paula Ramos [crítica de arte, professora e pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; texto de apresentação da artista para o livro 3×4 VIS(I)TA]

É em meio a livros, objetos, louças brancas e desenhos em múltiplas formas e suportes que Roseli Jahn (Porto Alegre, RS, 1951) trabalha. Mais importante, todavia, são as flores e folhagens: lírios, bromélias, clusias, magnólias e “fitas de moça” vicejam pelo luminoso ambiente, exalando não apenas perfume, mas leveza, harmonia, placidez. As flores, em sua exuberância e frescor, são o leitmotiv da artista, que parte da observação arguta de suas formas para explorar, pela linha precisa e sensual, a fluidez e a airosidade. Obssessiva, bosqueja várias e várias vezes o mesmo referente, até alcançar a síntese, ou, como ela mesma coloca, “[…] a linha na sua aparente imaterialidade, escoando fluidez, balanço, leveza, gerando vários níveis de planos que possam ser, enfim, vivenciados – criando e recriando diálogos com o espectador, e é justamente neste diálogo que busco desencadear a possibilidade de uma experiência que possibilite sintonia delicada e profunda”.

Formadora de gerações de artistas, Roseli Jahn atuou como docente junto ao Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) entre 1977 e 2004, sendo responsável por diversas disciplinas na área de Desenho. Foi nessa mesma instituição que se formou em 1975, tendo sido aluna, entre outros, de Dorothea Vergara (1923) e Alice Soares (1917–2005), essa última sua grande mestra. A artista também foi assistente de Ado Malagoli (1906–1994) e trabalhou, no início de sua trajetória, como restauradora junto aos acervos da Santa Casa de Misericórdia e do Museu de Arte do Rio Grando do Sul (MARGS). Em 1995, obteve o Diploma de Estudos Aprofundados em História, Teoria e Prática das Artes pela Universidade de Ciências Humanas de Strasbourg, na França, com a tese intitulada Do espaço e da intenção do desenho. Discutir esses aspectos, espaço e intenção do desenho, são os focos permanentes de sua obra.

Embora trabalhe a partir da observação, Roseli Jahn não está interessada na representação naturalista do objeto, mas nos desdobramentos formais a partir desse intenso exame. Por conta disso, sobrepõe linhas ora delicadas, ora intensas, sugerindo não apenas ritmo e movimento, mas um amálgama de planos, transparências; também opera a planificação geométrica de estruturas tridimensionais. No limite entre figuração e abstração, seu delicado grafismo manifesta-se, assim, tanto de modo orgânico, como esquemático; tanto sussurante, como sucinto.

Pensando o desenho de modo ampliado, Roseli Jahn vem estendendo sua atuação ao campo do design. Além de joias, objetos em vidro e padrões de superfície, elabora artefatos a partir da justaposição de pratos, potes e tigelas de porcelana branca. São abajures e vasos que multiplicam os elementos que a cercam: plantas, flores, louças, todos tradicionalmente relacionados ao universo feminino, que a artista revisita com sutileza e contemporaneidade.

É no escrutínio sensível do cotidiano e da natureza, suas formas e cadências, que Roseli Jahn desenvolve sua poética, convidando o espectador a frear o olhar e a permitir-se o deleite, pura e simplesmente.