Uns quase cochichos
Parte de minha produção é constituída por obras sobre papel. É um “suporte” que me interessa devido a sua versatilidade permitindo trabalhar SOBRE ele ou COM ele. Sua característica principal é o fato de ser constituído por trama de fibras que forma a sua pele/corpo. E é sobre essa pele que detenho minha atenção ao transferir caracteres destacáveis como Letraset, por exemplo. Estes caracteres são constituídos por uma delgada camada que se adere ao papel e agrega-se a sua superfície. Me atrai esse encontro e aderência como se fosse uma tatuagem.
No caso dos trabalhos aqui apresentados, a retícula gráfica adere à superfície dos impressos mantendo-os justapostos e em diálogo tanal e gráfico. As letras destacáveis, adensadas àquelas pré existentes, velam, (con)fundem e conflitam mas também aconchegam lado a lado artistas e seus nomes como se os convidasse a uma conversa.
Carlos Krauz
Novembro de 2022
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TRANSPAREENCIA / OPACIDADE / REFLEXO / COR
A transparência e uma das propriedades materiais que mais me chama a atencão. Inicialmente pela presença massiva e crescente dos materiais transparentes no nosso cotidiano, particularmente na arquitetura. Nos ultimos tempos é corriqueira a sua presença erguendo prédios, paredes externas ou internas, muros, pavimentos ou mesmo telhados. A sua função de proteger e isolar permite e excita, no entanto, a agirmos como vigilantes ou voyeurs. A dominarmos visualmente sem nos envolvermos ou aproximarmos fisicamente. A agirmos cada vez mais anestesiados diante do mundo transformado em vitrines.
É também avassaladora a presença dos materiais transparentes nos dispositivos eletrônicos como computadores ou telefones móveis, através dos quais “habitamos” n espacos e simultaneamente podemos nao estar em lugar algum. Me chama a atenção, quando a tela destes dispositivos está inativa, que ela funciona como um espelho retrovisor. Reflete a imagem do meu rosto e de tudo o que me cerca, tingindo-nos com um tom escuro e de contornos imprecisos. Quando ativada se converte em fonte de luz. E, se ligo sua câmera frontal, eu e o contexto somos espelhados em uma imagem clara e em alta definição. Converte-se em um dispositivo de vigilância que tanto me permite espiar quanto ser espiado.
Assim, de um lado ou do outro desta superficie, deslizamos todos na mesma transparência (expressão muito estimada pelas políticas de estado e do Marketing) que nos entrega a servidores/robôs que coletam dados desde nosso tipo sanguíneo até nossa geolocalização. Somos imagens habitando servidores. Somos raptados da nossa condição de cidadãos e “presenteados” com a condição de consumidores. Estaríamos redimidos ?
Carlos Krauz
Novembro de 2022