[Sobre Adolfo Montejo Navas e a heteronímia]

Pedro della Riva

Há tempo que a tarefa de crítico e curador, pelo que Adolfo Montejo Navas é mais conhecido no meio artístico, vem sendo equilibrada com a outra prática de artista visual, apesar de quase ser conhecido primeiramente por ela em tempo de outrora, inclusive por artistas como Lygia Pape, Victor Arruda ou Paulo Bruscky, entre outros; e assim ser quase secretamente artista de artistas, pela consideração mais específica que pública. Por outra parte, além da condição de escritor e poeta – sempre uma filiação de afinidades eletivas -, nos últimos tempos esta equação polivalente de interesses se explicitou cada vez mais, com direito a individuais significativas de grande registro interdisciplinar, tendo mostras de amplo percurso histórico e pluralidade de horizontes. De fato, tudo parece querer ser a mesma coisa no artista, parte de uma heteronímia, na medida em que os interesses vários se retroalimentam, vivem se intercomunicando e se traduzem de muitas formas, linguagens, suportes, embrenhando-se para configurar uma poética nômade, oblíqua, portátil que acasala imaginário, crítica, subversão e humor. Um trabalho de entre-imagens. Porque fica evidente que se trata sempre de um trabalho fronteiriço, em todos os sentidos da palavra, de deslocação e estratégia desconstrutiva de mitologias fundamentalistas, e que sabe comungar com uma genealogia ativada nas rupturas da poesia visual, aquela praticada contra a linguagem consensuada e a servidão dos signos, em paralelismo com a praxe da arte conceitual, e com uma relação estreita com a fotografia e a cultura da imagem. Como reflexão inevitável da linguagem, interrogação. Um território imagético, portanto, no qual a relação do texto e da visualidade se hibridiza, o desenho e até a caligrafia se redimensiona em novos limites, muitas vezes atingindo as coordenadas do espaço, da arquitetura, via instalação ou intervenção. Dimensões e re-dimensões visuais, icônicas, cuja razão de ser não deixa de ter uma origem lírica – como política, exercício, ensaio -, no sentido de poiesis, de criação (de paradoxos, outras leituras e percepções).