Belony Ferreira e sua conexão com a terra, na Ocre Galeria
A artista Belony Ferreira, que faz da terra sua matéria-prima, inaugura exposição no próximo dia 21 de novembro, assinalando o início das comemorações de seus 90 anos.
Belony Ferreira (Santo Antônio da Patrulha, RS, 1935) tinha 53 anos quando ingressou no Atelier Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre para fazer um curso de “Arte para a Terceira Idade”. Agricultora, nascida e crescida em meio ao cultivo de cana-de-açúcar, ela encontrou as artes visuais na maturidade, dando à sua velha companheira, a terra, o protagonismo de seu trabalho.
Militante política, ela participou, em 1985, da invasão da Fazenda Annoni, marco de fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Seis anos depois, retornando ao local, deparou-se com a terra a impregnar as peles e as roupas dos agricultores, que, instalados provisoriamente, buscavam o assentamento. Na lembrança de artista: “Quando cheguei, tinha chovido. No meio do mato, havia uma sanga e umas mulheres estavam lavando roupa. Eu fui até elas e, na volta, elas foram caminhando na minha frente, por uma trilha bem estreita. E elas pisavam naquela terra ensopada, atolando as botas, algumas perdendo os chinelos, que ficavam presos à terra. Era um barro vermelho, muito vermelho, puro pigmento, que parecia sangue. Eu fiquei olhando praquilo, muito impressionada com aquela argila pesada, forte, que grudava nelas. E pensei: Que loucura, isso… O que faz com que essa gente tenha tanta garra, tanta disposição para resistir, para lutar? Só pode ser a força que vem dessa terra”. Sem saber direito com qual propósito, recolheu um saco daquele barro. De volta a Porto Alegre, em seu ateliê, pensou em modelar alguma forma, tentar uma cerâmica, mas logo desistiu. Começou, então, a usar a argila como tinta: “Passei um pouquinho num papel branco e… Nossa Senhora!!! Aquilo foi de uma vibração incrível!!!”. Impactada, Belony passou a explorar, desde então, as múltiplas possibilidades da terra.
Entre pigmento, cor, textura e grito, diante das diversas emergências climáticas que assolam o planeta, a terra / Terra é seu tema, matéria e forma.
No modelo de uma pequena antologia, a exposição Belony Ferreira – Alma Terra exibe trabalhos produzidos nas últimas duas décadas. Com curadoria da crítica e historiadora da arte Paula Ramos, a mostra inaugura as comemorações dos 90 anos da artista, a serem completados em julho de 2025.
No dia 11 de dezembro, a Ocre Galeria também faz o lançamento do livro homônimo, com a participação das autoras: Maria Helena Bernardes, Paola Zordan, Sandra Alencar e Paula Ramos. A impressão e a distribuição do livro foram possíveis graças a campanha de financiamento coletivo, realizada entre agosto e outubro de 2024.
Alma Terra, exposição de Belony Ferreira
Curadoria: Paula Ramos
Abertura: 21 de novembro de 2024, quinta-feira, das 18h às 21h
Visitação: de 22 de novembro a 21 de dezembro de 2024
Segunda a segunda-feira, das 10h às 18h; Sábado, das 10h às 13h30
Ocre Galeria
Rua Demétrio Ribeiro, 535 – Centro Histórico – Porto Alegre
+ 55 51 99598 2403